segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015



'Um dia eu largo o mundo, num suspiro profundo e num segurar de rosto para que o sol não me ofusque a paisagem que fica cada vez mais lá ao longe. Um dia verei onde estou rodeada de água ou de nuvens, não sei, mas não estarei virada para cá.
Um ia verei mil sois nascer de várias formas, cores e sabores. Um dia pedirei perdão a quem tanto pediu que não tirasse os meus pés do chão e ficasse de coração.
Mas o meu coração de livre nada tem, e o sabor que guardo, tão tingido pela distância, nunca se apaga.
Existe um sabor que eu sei de cor. É o sabor do amor e de um amor que sei não me esquecer também.
Um dia o olhar ficará turvo, embaciado, encharcado. Mas o tacto nunca perderá a textura da minha terra. 
Um dia o anoitecer, será contado às estrelas em como aquela gente que eu amo, está sempre dentro de mim.
Um dia serei a viagem. Serei o esforço. A ocupação para esquecer. Um dia talvez não seja fogo que queima, nem cinzas espalhadas onde te espero encontrar.
Mas fecho os meus olhos e tu estarás sempre comigo.’

2 comentários:

  1. Um dia . Um dia haverá sempre outro dia em que tudo será diferente , um recomeço , quiçá , um dia apenas restarão as cinzas do que fomos , e a tua terra sem tacto absorverá tudo o que foste, tudo o que fomos,tudo misturados : ossos , sangue e sentimentos ... tudo cinzas iguais, mais ou menos do mesmo tamanho e feitio .
    Não te esqueças de te despedires quando decidires ser viagem , pois as viagens começam sempre com uma despedida ,é já tradição : um beijo , um queijo no cesto da merenda , o fumo e o barulho do motor .
    Agora penso , se fores viagem de que tipo serás ? Viagem de mar , atravessas tempestades de ondas gigantes e escangalhaste em pedaço numa rocha do outro lado do oceano ? Ou viagem de terra , passo a passo sem fim ? Melhor : vejo-te como uma viagem aérea, assim como um condor ,uma daquelas árvores enormes que dão a volta ao mundo até fazerem ninho e se esquecerem de voar mais alto que as estrelas .
    Resumindo és viagem pronto . Eu serei farol de um porto anónimo , radar de um aeroporto qualquer ou uma fonte onde te refresca durante a caminhada , é que sabes , eu sei ser nada .
    Alaya

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  2. Curiosamente tornei-me mesmo viagem aérea ..
    Sobrevoei todos os medos que haviam em mim e vi-os de lá de cima, sabes, de onde as verdadeiras vertigens nascem.
    Vi desesperos meus, remorsos, culpas e tristezas de sonhos que nunca realizei tão pequeninos que a minha viagem ganhou um sabor que nunca antes tinha experimentado: a coragem, aquela que nos leva em embarcar em algo novo sem saber o que dará e em que a única bagagem que levamos são simples vestes que nos acolhem o corpo e a música que nos aconchegam e nos enchem de força e de um ar destemido.
    Voei sem saber o final e ainda hoje o escrevo no pensamento sem colocar no papel uma única experiência.
    Às vezes, quase sempre até, ainda sinto que estou lá em cima e que a história da minha viagem ainda se escreve, mas receio esquecer partes,cheiros ou sabores que agora são tão intensos em mim.. Mas sei que se algum dia sentir que toda esta viagem terminou, então, num pedaço de papel, escreverei uma das histórias mais bonitas que amor fez em mim...

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