Pontas soltas...

Às vezes, quando menos quero, deparo-me com frases ou imagens que me trazem tudo de novo à memória.. Todos os momentos de dor e de angústia por que passei..
Às vezes, ainda ouço as nossas vozes, naquele último dia em que fui tentar lutar por ti. Naquele último dia em que te pedi para que não desistisses de nada do que que éramos. Lembro-me das lágrimas que caíram pelo meu rosto, do corpo que me doia de tanto soluçar e da tua voz, irritada, como se tudo o que eu estivesse a dizer fosse o mais ridiculo que já tivesses ouvido.
Às vezes lembro-me do inicio, das horas longas que passavamos na conversa sem que o tempo se fizesse notar, do surpreendidas que ficavamos quando davamos por ele. Lembro-me do tão fácil que foi ver aquele amor crescer, das mil e uma promessas, das mil e uma surpresas, dos mil e um momentos que vivemos...
Lembro-me de achar que tudo aquilo era, sem dúvida, o maior conto de fadas que já tinha alguma vez imaginado viver..
Lembro-me de tudo como se fosse hoje... Só que hoje está tudo mais nublado e os cheiros já se confundem.
Lembro-me daquelas noites, viradas para as estrelas em que, numa luta constante comigo mesma, dizia que nada daquilo era real, que não era possivel. Lembro-me de pensar que um grande amor nunca nos deixaria naquelas condições e que não seria possivel alguma vez me teres amado tanto quanto alguma vez me tinhas dito.
Confiei-te a minha história e abri-te o meu coração.. Confiei em ti para superar os medos do passado e entreguei-te o corpo outrora usado e banalizado sem perdão. Quis contigo usar o ventre que num passado tentado por mim ser distante agora estava disposto a ser o futuro de novo. Quis eternidade a teu lado e, numa noite, por debaixo da tua almofada, pus as alianças, não de compromisso, mas de casamento... Tentei construir tudo aquilo que nunca tinha tido: Amor, familia, respeito, harmonia, um lar...
Mas tudo isso foi deitado por terra depos de quase dois anos... Depois de partilharmos o mesmo tecto e de acordarmos de mãos dadas manhãs sem conta..
Dei-te tudo o que tinha, todo o pouco que tinha, e deixaste-me sem nada, com uma mão à frente e outra atrás. Dei-te tudo o que era, tudo o que te conseguia dar com o mais puro dos sentimentos, e ainda assim, deixaste-me partir... Porque, segundo tu eu fora "a pior merda que te tinha acontecido, o teu pior erro"... E tu não imaginas sequer o quanto ainda me dói lembrar tudo aquilo que me disseste tantas vezes...
Lembraste de quando me levantaste a mão, mais que uma vez? Lembraste de quando atiraste as minhas coisas pela porta da rua? De quando me deixaste, durante quase um mês, sem tecto?
Lembraste de todas as vezes em que tentei lutar por nós, aquele nós que tanto nos fazia sorrir, aquela nossas essência que, achavamos nós, "nunca iria ser penetrada"....?
Amor que é amor... Amor que é de verdade não o faz, não faz nada disto.. Não culpa o outro do que gasta para comer, do tempo que perde para o fazer sorrir.. Amor que é amor, não é agressivo sem vê o outro lado de si a chorar horas sem o ir confortar.. Amor que é amor não nega um beijo nem um abraço... Amor que é amor não és tu...
E ainda são tantas as vezes em que choro, em que me perco no tempo a lembrar de tudo.. Ainda são muitas as vezes em que atiro tudo para o chão por ter sido tão burra....
Ainda são muitas as vezes em que sofro por tentar preocupar-me contigo, tentar aproximar-me de ti... Porque entendo que não me podes ter mentido em tudo e tento acreditar que aquela amiga existe de verdade... Ainda são muitas as vezes em que algo me faz lembrar de ti e eu perco o apetite...
Mas, sabes que mais? Se eu já tinha tantas barreiras, agora tenho muitas mais. Agora é-me muito dificil deixar que alguém se aproxime e, agora,alguém que eu goste, que eu até possa gostar de verdade, tem de lutar para tentar chegar a mim...
Porque este corpo de menina mulher já passou por muito, ja teve uma história complicada que nunca aos olhos de quem me vê é minimamente notório.
Agora, esta mulher, obrigada a crescer depressa, quer trazer a menina que há em si e tentar ser feliz de novo.
E, mesmo que neste momento, tudo pareça dificil à minha volta, eu não vou desistir de sorrir, de cuidar de mim, de me proteger, com ainda mais garra, do que antes.. Não vou deixar que o passado se torne no presente nunca mais e não vou permitir que me voltem a fazer o que tu me fizeste...
Eu pedi-te tantas vezes... "Não faças como todos os outros que me abandonaram.. Não me deixes sozinha de novo, comm estava antes de ti".. Prometes-te e não cumpriste...

Mas, quem me ouviu, na outra noite, a contar de ti, de nós, de mim, a chorar sem parar,a soluçar, em múltiplas paragens no tempo para conseguir respirar... Esse alguém que não tem culpa alguma do que eu já passei e que tanto medo tem que eu não te tenha esquecido. Esse alguém que procura por mim para que também se possa encontrar.. Esse alguém que tantas vezes é 'empurrado' para trás porque eu tenho medo...simples medo de voltar a sofrer... Esse alguém não poderá nunca ser culpabilizado por nada... Porque esse alguém faz-me tão bem... Dá-me tanto de si...

Quero ser feliz... Quero aprender a superar a minha história. quero parar de acordar a meio da noite a chamar pela Maria, quero abraçar sem medos. Quero entregar de novo o meu corpo sem o medo de voltar a ser usada e abusada.
Quero criar a minha irmã, a minha filhota, sem que ela passe pelo que eu passei.. Quero que o meu sorriso seja de novo explêndido...
Quero tanto e não sei por onde começar....

Só não quero passar por mais nada que me magoe tanto...........
Só não quero chorar mais.....

Maria..